caminhos circulares

“caminhos circulares” ele falou ao me ver, pela terceira vez. As duas anteriores foram no primeiro andar. Eu estava matando aula, que acontecia alí perto. Na primeira vez saí para beber água, mentindo pra mim mesmo. O frio na barriga senti ao decidir sair da sala, e ao me encontrar com ele. Eu achava que aquilo era demais, com desconhecidos tudo bem. Mas com ele não. Era demais. Na segunda vez que saí da sala, foi a terceira vez que encontrei com ele. Ele me dirigiu a palavra, e disse “caminhos circulares”, pela primeira vez alguem de nós mencionava a realidade do que estava acontecendo, e nao ficavamos inventando histórias. Eu gostava de todas vezes que inventavamos histórias. Era a oportunidade de me aproximar, abraçar e sentir seu cheiro…

Os militares pedem licença.

Hoje fui novamente lá, na parte da tarde. Estava dirigindo um siena, que como já disse, parece afetar a recepção das pessoas do campo – o fato de estar dirigindo um carro melhor.

Cheguei por volta das 16h20’. Logo ao chegar percebei que havia um antigo professor meu de inglês no lugar, fugi dele. Dei mais algumas voltas no estacionamento (fui primeiro para o que fica ao lado esquerdo, havia um rapaz do lado de fora de um palio branco, lendo um livro, do qual achei interessante. Estava tudo meio parado, com não mais de 10 carros.

Fui para o outro estacionamento, dei alguma voltas. Passei numa pista transversal que tem nesse estcaionamento e tinha um cara mais velho sem blusa. Fiquei dando uma voltas e um rapaz me achou interessante, deixou o carro ao lado do meu e perguntou

-Tá afim de quê?

Eu não tinha achado-o ‘interessante’ e disse:

-Só dando uma volta mesmo, valeu.

-Só, valeu.

E fomos embora os dois.

Voltei ao outro estacionamento e fui atrás do rapaz que estava do lado de fora. Aproximei o carro, ele acenou com a cabeça, aproximei mais ainda o carro e ele veio até mim. Fiquei com receio de pela primeira vez ter que chamar alguém para dentro do meu carro (sempre entrei no carro deles, acho mais seguro);Ao se aproximar, eu o cumprimentei, ele riu e perguntou do que eu tava afim, e respondi:

-Entra aí...

E ele disse:

-Não vim aqui pra isso não (risos)

-E veio para que?

-Só deixar um amigo, ele já tá perdido por aí, nem sei onde.

-Ok, valeu (muitos risos).

Suspeito que o amigo dele seja um rapaz do qual passei alguns minutos antes e estava sendo chupado pelo motorista de um outro carro. Como não é comum que pessoas vão lá a pé, achei q poderia ser ele.

Em mais um volta, um cara fingia urinar (o que é muito comum) e outro carro se aproximou da árvore onde ele estava, quando eu passei de carro ao lado desse carro e o cara da arvore masturbara seu pênis que estava duríssimo.

Parei ao lado de um gol. Desci um pouco a janela, ele também. Damos um aceno de cabeça. Ele desce mais a janela, e eu também. Falamos qualquer coisa do tipo ‘tá afim de que’, que é de praxe. Eu estaciono na frente dele e entro no carro. Ele pergunta meu nome, do qual minto.

Ele pergunta:

-E esse tesão?

-Normal.

Ele apalpa meu pênis por cima da calça, logo apalpo o dele também. Ficamos nos masturbando por algum tempo. Ele pergunta se gosto ‘de chupar’, digo que não. Pergunto se ele gosta, também diz que não.

O pênis dele ‘babava’ bastante, a ponto de ele secar com a cueca. Repetia a todo momento ‘que tesão, que tesão’. E em um determinado momento diz:

-Vamos alí pras arvores, é mais escondido e até mais fácil de gozar

-oi?

-Alí nas arvores, é mais fácil de gozar...

Vamos em direção as tais arvores ainda dentro do carro. Quando um grupo de militares saem de dentro de um espécie de casa que tem para dentro do mato, cerca de 15. Esperamos eles passarem, quando ainda passam saímos do carro, no qual um militar diz:

-Amigo, pode estacionar pra lá? Vamos usar essa área.

Era muito obvio que o militar sabia o que fazíamos, e parecia agir com tanta naturalidade como nós.

Voltamos pra onde o carro estava, e continuamos a nos masturbar. Eu gozo. Ele diz:

-Já gozou hoje?

-Não.

-Bate muita?

-Não.

Pergunto-me se ele se referia a quantidade de gozo. Ele goza também e nos limpamos com o moleton dele.

Eu estendo minha mão para despedir, e a despedida geralmente se faz dessa forma. Ele não acha nada estranho ou frio, apenas diz:

-Eu te deixo no seu carro.

Ele anda uns 300m e me deixa no meu carro.

-Falou cara

-Valeu.

Entra mudo, mas fala pra meter.

São 22hrs e voltei faz cerca de 1hr do estacionamento do lado norte de lá, onde o bicho pega. Cheguei lá por volta das 19h50’. O estacionamento é muito grande, e as pessoas que trabalham/estudam no nas redondezas usam as vagas daquele lugar. Ainda não tentei quantificar o tamanho do estacionamento. Mas existiam cerca de 60 carro parados, mais próximo a rua de entrada, e vários circulando mais a dentro. Obviamente que esses que ficam perambulando de segunda marcha, com faróis baixos ou mesmo desligados são os dos homens a procura de sexo. Pela primeira vez tentei contabiliza-los. Contei duas vezes, me aproximando de 25 carros, mas creio ser um número entre 25 e 30. O que não quer dizer que estava cheio. Talvez quantidade que já vi outras vezes. Não sei se vale a pena especificar, mas o transito estava congetionado, e o pessoal pode preferir dar um 'tempinho lá', com direito a álibi motorizado e tudo.

Fiquei rodando por cerca de 20 min. Encontrei o carro de uma pessoa que cheguei a conversar uma outra vez, uma conversa bastante interessante que conto em outro momento. Era o sujeito do C3 preto.

Fiquei rodando um tempo, vi um cara interessante num Uno, mas parece não ter me dado bola. Depois vi um outro estacionando o carro e descendo dele. Era bem 'masculino', deve ter no máximo 40 anos, peitoral definido e estava com roupa que parecia ter saído da academia.Estacionei o meu afrente do dele. O meu carro ficou então virado para um outro, que tinha um cara dentro. Não liguei, ficquei uns 3 minutos dentro do carro e resolvi descer. Ao descer fiquei ao lado do meu olhando pra ele. Ele olhava para mim, e desviava o olhar, mas não por vergonha. Um outro caro estacionou a minha frente, entre mim e o outro caro; estacionou e desceu. O primeiro, com roupa de academia começou a apertar o pau, e eu o segui, fazendo o mesmo gesto. O terceiro fechou a porta do carro, e do lado de fora fazia o mesmo. Me interessei mais pelo primeiro, e fiquei olhando só para ele. Dirigi-me às árvores. Lá, já estava exitado, e massageava o pênis por dentro do shorts. Havia acabado de chover e estava um pouco frio. O cara de roupa de academia aproximou-se de mim, e tb com a mão dentro da calça foi chegando mais perto. Ficamos um de frento pro outro, e nos olhávamos sem expressar nada. Era muito intrigante, aquele olhar. Mas o olhar não era de sedução, ou sequer um sorriso de aproximação, nada foi dito. Ele abaixou mais os shorts e começou a masturbá-lo na minha frente, abaixei o meu e fiz o mesmo. Ele logo pegou no meu e eu no dele. O dele estava flácido (ou meia bomba) mas quase duro. Era bem macio e grande, imaginei se totalmente ereto deveria ser gigantesco. Era muito mais grosso que o meu, que julgo ser normal.

O terceiro cara se aproximou de nós, e continuo distante uns 5 ou 10 minutos. Porém havia aberto os botões da camisa e se masturbava nos olhando. Eu e o primeiro continuávamos a nos masturbar, e a cara era como se nada tivesse acontecido. Ele estava muito cheiroso, um cheiro sutil. Apertou o corpo dele contra o meu, e roçou sua barba na minha. Quase nos beijamos, mas um quase bem longe. Beijo não é algo comum nessas bandas.

Ele se movimentava como se estivesse me comendo, porém de frente. Passei a mão pela sua barriga, peitos e mamilo. Que eram cabeludos. Fiquei de costas pra ele e ele me abraçou, como se estivesse me comendo, colocava o dedo no meu anus e me masturbava. O terceiro foi chegando mais perto. De inicio exitei, mas depois os dois estava pegando na minha bunda. Esse terceiro até que era bonito (o que para os meus padrões não é lá grandes coisas) com isso deixei. Ora ficávamos um de frente pro outro, e o com roupa de academia masturbava ora a mim, ora a ele. Os dois tinha dessas caras bem machonas. O que é bem comum por lá. Não cheguei a ver se usavam alianças, mas existem muitos homens casados que vão lá, e era bem capaz ser o caso deles.

Num momento o segunda cara me encoxou por trás e o primeiro pela frente, enquanto eu cheirava o da frente, masturbava o de trás e outras coisas mais. O cheiro de homem é algo que realmente me excita, um leve suor de final de expediente com cigarro me deixa louco.

Dado momento um quarto rapaz se aproximou, parecia ter minha idade, era magrelo. Ficou observando e se mastrubando a uns 5 passos. Enquanto isso vi que mais dois faziam a mesma coisa a 15 ou 20 passos. Fizemos o quatro uma roda de masturbação. O segunda gozou, subiu a cueca as calças e foi embora. Sequer cheguei a ouvir o som da voz dele.

O quarto rapaz logo foi embora, e ficamos novamente só eu e o primeiro, continuando a nos masturbar. Dado momento ele foi para atrás de mim novamente. E pela primeira vez me dirigiu a palavra:

-Quer camisinha pra sentar no pau?

Eu não havia entendido direito e disse:

- Não tenho...

-Quer camisinha pra sentar no pau?

Fiquei em silêncio, e continuamos a nos martubar. Ele baixou mais meu shorts e deu tapas na minha bunda. Enquanto nos masturbávamos novamente duas coisas cômicas aconteceram. Começamos a ouvir gritos do outro lado do estacionamento. Era difícil precisar o que se falava, mas algo como “Logo você, logo você. Meu amigo. Logo você!!!!!” Imaginei ser alguém encontrando outrem que não devia. Alguns instantes depois, perto de nós, a uns 30 passos alguém começa a gritar: “Hey menino. Hey Paulinho... Paulinho da Gabi!” sem respostas volta a gritar “Hey Paulinho, vem aqui”..."Você mesmo de blusa vermelha e calça, vem aqui". silêncio “Hey menino, Paulinho”.

É mole ou quer mais?

Passado isso, ele se aproxima do meu corpo de novo e diz:

-Quero te comer. Vamos pro carro?

Eu fiquei de frente pra ele, peguei em seu pau e disse:

-Acho que não vou dar conta. - com um sorriso safado.

-Vai sim, tenho camisinha e gel aqui.

-Agora não...

Ele me colocou de costas novamente, se aproximou de mim e sussurrava no meu ouvido:

-Quero comer seu cu. Colocar meu pau dentro de você, bem devagarinho, até você se acostumar. Ficar durão lá dentro. Depois como você, bem hardcore. Vou te deixar com as penas tremendo quando tirar meu pau. Gosta de dar o cu?

Ele dizia isso de forma sussurrada e sedutora. E eu só conseguia dizer “sim, gosto”.

Ele colocou minha bunda de lado e dava mais palmadas

Ele disse:

-Empina a bundinha vai...Isso sua putinha, empina.

E batia mais.

Novamente fico de costas pra ele e faz como se estivesse me comendo. Ele tira algo do bolso, fico apreensivo, achando que quer colocar uma camisinha e me comer alí mesmo. Mas é um pote de KY, que ele coloca nos dedos e usa para introduzir seu dedo em meu anus. Ao fazer isso fico muito excitado, não passa de 5 minutos e digo que vou gozar. E ele:

-Então goza.

Gozo.

Balanço a mão para retirar a porra, e tento limpá-la na folha. Visto o shorts e ele também. Pela primeira vez nos olhamos e rimos um para o outro.

Andamos em direção aos carros e não sei o que dizer. Em outra circunstâncias, daria ou pediria o telefone. Mas sei que não é a prática dali.

Ele simplesmente diz:

-Falou cara. Valeu, até mais.

-Falou, até mais.

Eu entro no carro e vou embora. Ele continua parado ao lado do seu carro. Talvez a procura de outro.

A segunda.

Ainda sob a ordem de escrever diários de campo do Wacquant, remeto-me agora a visita ocorrida no dia 30 de julho. Eu e um rapaz saímos do último dia de shows de um festival de roque para fazermos sexo lá. Eu já sabia que existia o tal do ‘sexo gay do *’ nesse estacionamento, dado a primeira visita com o N.

Nós estávamos no carro, quando um Ford Ka aproximou-se e passou ao nosso lado várias vezes, nesse dia eu conduzia um Siena, o que mais tarde percebi fazer diferença lá (a diferença no preço dos carros que se conduzem). O rapaz do kA estacionou atrás do nosso carro, desceu e veio até nós. Apreensivos colocamos as roupas, eu girei a chave do carro e baixei o freio de mão, com medo.

Ele era bem forte e bombado, o C* entusiasmou-se e baixou o vidro. Ele disse:

-cabe mais um aí?

-poxa, já está difícil só de dois - respondi.

Ele perguntou porque estávamos de roupa, e eu retruquei dizendo para que ele tirasse, em tom de desafio.

E ele tirou. Ficou nu ao lado do nosso carro, o pau em riste, naquela noite fria.

Não lembro exatamente o que falamos, sei que descemos do carro e começamos a nos beijar, os 3. Abaixamos as calças e beijávamos mais. Eu estava no meio dos dois, de frente para ele, por vezes ele colocava a mão na minha nuca e tentava fazer com que eu o chupasse, o que eu evitava. Nunca gostei de fazer sexo oral, principalmente em desconhecidos.

Ele fazia o mesmo gesto com o C*, que tb negava.

C* chegava a tremer.

Certa hora um carro passou próximo e por medo nós três entramos no carro. Eu e C* no meu e ele no dele. Nisso, o rapaz encontrou outra pessoa, nos aproximamos (ainda de carro) e ele nos disse: poxa vocês não chupam, ele alí chupa. E foi se encontrar com um quarto rapaz.

C* pediu para ir embora, deixei na rodoviária, que fica a 2 ou 3 quilometros de onde estávamos. Acelerei o máximo que pude para tentar encontrar o rapaz do Ford Ka, não a toa, no outro dia, C* me perguntou se eu havia voltado ao parque. Deve ter ficado obvio, dado a velocidade que sai.

Encontrei o fortão no estacionamento do lado direito (estávamos no do esquerdo antes). Ele estava saindo de um 4º carro (não era o mesmo de antes de termos ido para a rodoviária), veio até mim e eu disse:

-Voltei por sua causa.

-Quer me dar?

Fiz que sim com a cabeça.

E ele disse que era uma pena, que preferia me comer, mas já estava com o outro.

Achei fofo.

Ao que me lembro, fui para casa.


Na segunda vez, nem melhora tanto assim.

A primeira vez é sempre.

Esse diário se iniciou em outubro, após a leitura de prefácio e prólogo de uma etnografia chicaguiana. Visto a emergência em se construir sistematicamente um diário de campo.

Minha idas até lá * em busca do que o meu pobre vocabulário só consegue se referir como ‘sexo gay do *’ surgiu após uma noite numa balada com o amigo N, no VP. Nessa balada bebemos, e também foi onde conheci uma rede social virtual chamada G tb através do N, que cabe em uma outra pesquisa em torno de ciência e tecnologia e novas formas de socialização.

Essa nossa saída se deu num domingo, por volta das 2hrs da manhã fomos em direção ao tal lugar onde se faz sexo gay. Chegamos lá em dois carros, o meu (onde eu estava sozinho) e de N que tinham por volta de 5 pessoas dentro.

Ao chegarmos não havia absolutamente ninguém no estacionamento a direita. Demos uma voltas, descemos do carro, dois ou três carros passaram de vidros fechados.

Infelizmente essa visita deve ter se dado a quase 5 ou 6 meses e pouco me lembro dela. Fato mais marcante foi quando eu fui atrás de um dos carros.

Ele desacelerou, e as luzes vermelhas anunciavam sua parada em definitivo.

Não lembro que dissemos, mas ele desceu do carro já abrindo as calças e eu desci do meu. Comecei a abrir minha bagrilha também, e nos masturbamos. Assim.

N aproximou-se com o outro carro, onde haviam as outras 4 pessoas dentro.

Ele olhava para o carro de N, e para mim.

-São só uns amigos - eu disse.

-Aquela galera ali é meio estranha.

Como quem parecia que fazia aquilo a anos, falei de foram bem calma, apesar das pernas tremulas, e da sensação de vazio no meio do corpo.

-São só uns amigos - seguido de um sorriso amarelo.

-Não cara, falou.


A primeira vez é sempre uma bosta.